sexta-feira, 16 de setembro de 2011

landinho e maria

o que eu digo pra eles? pensei enquanto pegava '1933 foi um ano ruim' da estante. sai e coloquei o restinho do perfume que havia sobrado no frasco. olhava as roupas no armário, a calça com o vinco, tudo passado, perfeito. sentei na cama, fria como antes, mas ainda macia. procurei no meio das gavetas a carta do primeiro amor, encontrei no acaso a medalha do futebol e revi uma foto com pessoas que já não me lembrava mais.

a camisa do time com o autógrafo do craque, agora um pouco mais desbotado. pequena demais para vestir, grande para todas as lembranças dos domingos de sol e macarrão. o CD dos Beatles que ganhei em um amigo secreto do colega de trabalho que já deve ser um pai parcialmente dedicado. tentei ouvir no pc. riscado, concluí.

ri do 'eu te amo eternamente' na declaração infantil do segundo amor, encontrei a pulseira comprada na praia que arrebentou pela realização do pedido mais inocente. desci a rua e fui comprar uma coca no boteco do cláudio. fechado. nem sei o que virou. dei a volta pela rua de trás, fiz o caminho mais longo só para passar na frente da quadrinha, mas encontrei apenas um prédio quatro quartos, piscina, churrasqueira, sala de musculação, cinema por 90 parcelas de oito quatro sete alguma coisa. na frente da casa da Maitê um cartaz de aluga-se. nem toquei.

dei bom dia ao porteiro que não me conhece. entrei novamente no quarto. vi um dvd do meu time campeão, um 'Cartas de Vinícius' na cômoda e uma foto minha sorrindo, levemente bêbado. era isso então. era a sombra para os amigos, a lembrança para os amores e o quarto de um falecido filho, amado filho, que tinha que encarar aquilo tudo cheio de pó e nostalgia e ainda descobrir quando se olhava no espelho quem diabos era. para onde diabos iria e como tudo isso acabaria realmente.