terça-feira, 8 de novembro de 2011

fora do mapa

Até hoje acho graça do jeito como a gente se conheceu. O convite pro cinema, seu nariz meio torto iluminado pela tela grande e eu querendo largar tudo, largando tudo pra ficar contigo. Assim, num impulso, sabendo que era besteira e querendo mesmo assim. Não sei quando foi, talvez entre tua volta da Espanha e a ida pra Inglaterra. Canadá? Não me lembro. Só tenho na memória o banco da praça, teu sorriso soluçado. De como você se irritava com o fato de eu não ter cinzeiro aqui em casa, sempre batendo a bituca na minha coxa, formando um buraco grande que agora quer toda minha perna.
Juntando tudo, devem ter sido no máximo uns sete, oito meses. Todas as tuas idas e as minhas vindas. Mas gosto de pensar que foram uns sete ou oito anos. Gosto de lembrar de como você sentia vergonha pelo meu jeito relaxado perto dos teus amigos de nobres famílias sul-sancaetanenses. De como você quase me matou quando subi naquela mesa meio bêbado, pedindo licença pra poder fumar um cigarro no frio lá de fora. E a gente brincava e fazia apostas de quem iria cair fora primeiro, quem tomaria a decisão de soltar a mão do outro provando ser forte, tentando ser forte.
Me acostumei cedo em te ver partir, pois sabia que sempre seria assim. Você partindo e eu te olhando entrar na sala do embarque internacional sem olho marejado, só meio atônito, quieto. Você sem olhar pra trás, sem nada mais que um 'a gente se vê por ai, cat'. Nas tuas viagens, Roma, Holanda, Austrália, nunca existiu uma escala minha, nunca fui teu porto, e acho que a gente sempre se entendeu por isso. Não sei amar, nem você. Aprendi a exercitar a memória, decorar teus perfumes e nossos beijos pra lembrar quando você estivesse em fusos distintos.

Um dia você me mandou um e-mail perguntando se saudade era diferente de amor. Nunca soube responder, mas são nos dias em que recebo uma mensagem no celular com todos os teus erros de português tão seus me perguntando 'voltei. tô aqui perto da tua casa, tá ai?', que o peso da rotina vai embora e tudo é leve. Como nosso não amor, como a gente deitado no chão do teu quarto ouvindo 'Tonight, Tonight'. Não é preciso que seja longo para ser belo, e é no excesso da distância e na ausência do tempo que vamos seguindo. Ainda de mãos dadas.

3 comentários:

Luciano Costa disse...

eu às vezes realmente amo a ana, gosto da flávia, da márcia, acho legal a paula e me pergunto se eu largaria tudo pela gabriela. penso que sim e isso dói. talvez saudade seja maior que amor.

Clarissa disse...

Adorei seu blog!
Beijo, Clarissa

Anônimo disse...

lindo!